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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Paragem de autocarro, apresentação oficial dia 9 de Maio pelas 17:30h


Livro de poesia na secção "Prazeres Poéticos" da Chiado Editora. Grande parte da colecção de poemas, neste livro, tem já muitos anos (cerca de 15 anos ou até mais). Outros, serão um pouco mais recentes, mas não com menos de dez anos. Não quis, no entanto, deixar de os publicar, tendo-me sido oferecida a oportunidade de o fazer.

Talvez hoje escrevesse com outros olhos, acrescentasse alguma maturidade a alguns temas, mas não me envergonho nada desta "Paragem de autocarro". Deu-me até vontade de voltar a fazer poesia, nestes tempos em que tenho andado mais voltado para a literatura fantástica e de ficção científica.

Outros temas me movem, porém. Mas não ainda a flor da cerejeira (desculpa, avó: sei que insistias que eu deveria escrever sobre os aspectos bonitos da vida, sobre as maravilhas da natureza, dado que até sou biólogo.

Mas não. Reconheço o lado místico da natureza, a sua perfeição que nos inspira. Mas nunca irei escrever sobre a flor da cerejeira e explico porquê: mais belo que uma paisagem bucólica, mais puro, mais poético, é o olhar vincado da mulher anónima, com a mão segura no varão do autocarro, carregando na expressão do rosto o peso de uma vida que não foi perfeita. Com fracassos, com frustrações. Amores falhados, talvez mãe solteira, talvez passando ao lado de uma grande carreira. 

É essa mulher anónima, uma estranha, de quem não sei nada, e nunca saberei nada, uma mulher de rosto fechado, calejado, mas que num instante cruza comigo um olhar, revelando, por detrás de tantas camadas doridas, um anseio, uma vulnerabilidade, de quem diz "ainda estou viva", é isso para mim a flor da cerejeira.

As mulheres e os homens do autocarro. Apertados como sardinhas em lata e, no entanto, tão sós e distantes como os planetas de uma constelação. Pessoas anónimas, isoladas, no ambiente urbano, pessoas a partilhar um espaço, e vidas que se cruzam, condenadas a não se encontrar, é mais isso que me faz escrever. Não tanto as flores e os insectos. Esses reservo-os para a ficção científica).

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