a-chave-dicotómica

a-chave-dicotómica

domingo, 28 de julho de 2013

E só para quem não conhece, aqui estão as orelhas


Sou um ser superior


Quem quiser ver "O Inferno" de Hieronymus Bosch não precisa de se deslocar ao Museu do Prado, em Madrid, que nem é uma viagem assim tão longa, mas basta tão somente experimentar visitar o Fórum Montijo, num sábado, ou num domingo, à hora da refeição (almoço, para ser mais preciso).

O cenário é praticamente o mesmo, excepto aquelas duas famosas orelhas, que se assemelham a dois testículos, por entre as quais se destaca uma enorme e erecta lâmina de uma faca. Disso nunca lá vi, mas talvez por não estar muito atento. Atento estou às mesas de aspecto hediondo, que os gentis cidadãos (às vezes famílias inteiras) assim deixaram, atulhadas de tabuleiros com os escombros do que foi uma refeição alarve no McDonalds. Tabuleiros que ali ficaram por arrumar. Essa tarefa, invariavelmente, é-me delegada a mim, que acabo de chegar com o meu tabuleiro, sem encontrar um único espaço vazio para me sentar a almoçar. Mas antes de me debruçar sobre o item menos mau que selecionei como repasto, é-me proposto, pelo comportamento cívico dos outros, que perca um pouco mais de apetite a carregar os restos nojentos dos outros para os locais indicados. Muitas vezes com os próprios, que acabaram de abandonar a mesa, a “supervisionar” a atabalhuada execução da minha tarefa, pois ao mesmo tempo que envergo o meu tabuleiro, tenho ainda que vagar a mesa com os tabuleiros dos outros. Os outros, que me olham com um esgar jocoso quando reparam que a minha tarefa redunda na arrumação do meu próprio tabuleiro no final da refeição. 

Um esgar jocoso, um ar superior de quem pensa que estando pago o almoço, nada mais têm que fazer ou arrumar. Esquecem-se apenas que não estão num restaurante, mas num espaço comum e aberto, com mais gente a querer sentar-se para ter direito à refeição que se esfria nos braços, refeição que também pagou.
 
É claro que ninguém os obriga a levarem os tabuleiros, mas é uma questão de civismo, de fazer o que gostariam que também lhes fizessem, caso estivessem eles à espera. E não custa assim tanto, nem é assim tão desprestigiante. Quando termino a refeição e me dirijo à zona onde se arrumam os tabuleiros, não me sinto inferior, ou servil, ou qualquer que seja o rótulo ou classificação desdenhosa que perpassa subliminarmente no olhar sobranceiro de alguns transeuntes.

Bem pelo contrário. É nos escassos momentos em que executo um pequeno gesto que facilita a vida dos outros - estranhos, por sinal - à minha volta, que me sinto parte de uma qualquer elite deste país.

sábado, 27 de julho de 2013

Que maravilha.


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mama Jessica


Há filmes de género. E, depois, há filmes de género que, apesar de todos os clichés, têm no seu elenco Jessica Chastain.

Este “Mama” até começa bem, mostra potencial no campo onde os filmes de terror podem oferecer algo mais interessante aos seus públicos. E que é, na verdade, a exploração interior de um personagem, em paralelo com o desenvolvimento mais ou menos “chapa 4” de um filme de horror estilo “haunted house”. O crescimento e a transfiguração de um protagonista dentro da história, cujos contornos sinistros o forçam a uma viagem de auto-superação e auto-descoberta. Este protagonista, neste filme bem realizado mas longe de ser genial, chama-se Annabel, personagem feminino, sólido, 3D, que começa numa posição secundária e cresce para agarrar os freios da progressão dramática. Mas este filme, que poderia evoluir para um interessante thriller tendo em conta o que a personagem Annabel nos oferece, acaba por se perder num aborrecido e pouco subtil filme de fantasmas animados, com um final que nem é thriller nem terror, a lembrar um filme de Tim Burton. É pena.

Mas mais do que o filme, debruço-me sobre Jessica Chastain. A primeira vez que a vi no ecrã foi em “The tree of life” e, depois disso, em poucos outros filmes, “The help”, “Zero Dark Thirty”, “Take Shelter”. E agora neste “Mama”. Poucos filmes em que a vi e, no entanto, a minha actriz favorita do momento.


sangue nos interstícios

Concurso FNAC Novos Talentos 2013, Call to arms: Almanaque Steampunk 2013.

Alea Jacta Est.