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domingo, 11 de maio de 2014

Foi assim


Apresentação do livro de poesia "Paragem de autocarro", no dia 9 de Maio.

sábado, 10 de maio de 2014

HER

Apesar de não ter sido categorizado como tal, este foi para mim o grande filme Sci-Fi do ano passado. 

À parte as categorias, este filme é em si uma obra colossal, um filme de culto. Com um registo suave e melancólico, envereda por questões ontológicas enquanto explora em profundidade as relações humanas. Se é que se pode falar em relações humanas nesta obra que toca com sublime elegância no tema, tão caro ao "ciber-punk", da singularidade.

Mas sim, pode falar-se de relações humanas. Mesmo que o personagem se perca num relacionamento virtual, com um sistema operativo que rapidamente aglutina os corações solitários dos vultos que se cruzam nos labirintos da vida urbana, numa cidade sem tempo e sem geografia definida, a retro-modernidade de uma metrópole onde os cidadãos estão condenados a comunicar com os seus próprios computadores, alheados do mundo real que os rodeia, rarefazendo relações, deteriorando laços.

Estaremos tão longe assim desta visão? Hoje até no cinema, onde podemos ver HER, o escuro da sala é cada vez mais polvilhado de luzes de smart-phones, que cintilam como pirilampos. Cada vez  estamos mais sós e, ao mesmo tempo, cada vez sabemos menos estar sós.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Paragem de autocarro, apresentação oficial dia 9 de Maio pelas 17:30h


Livro de poesia na secção "Prazeres Poéticos" da Chiado Editora. Grande parte da colecção de poemas, neste livro, tem já muitos anos (cerca de 15 anos ou até mais). Outros, serão um pouco mais recentes, mas não com menos de dez anos. Não quis, no entanto, deixar de os publicar, tendo-me sido oferecida a oportunidade de o fazer.

Talvez hoje escrevesse com outros olhos, acrescentasse alguma maturidade a alguns temas, mas não me envergonho nada desta "Paragem de autocarro". Deu-me até vontade de voltar a fazer poesia, nestes tempos em que tenho andado mais voltado para a literatura fantástica e de ficção científica.

Outros temas me movem, porém. Mas não ainda a flor da cerejeira (desculpa, avó: sei que insistias que eu deveria escrever sobre os aspectos bonitos da vida, sobre as maravilhas da natureza, dado que até sou biólogo.

Mas não. Reconheço o lado místico da natureza, a sua perfeição que nos inspira. Mas nunca irei escrever sobre a flor da cerejeira e explico porquê: mais belo que uma paisagem bucólica, mais puro, mais poético, é o olhar vincado da mulher anónima, com a mão segura no varão do autocarro, carregando na expressão do rosto o peso de uma vida que não foi perfeita. Com fracassos, com frustrações. Amores falhados, talvez mãe solteira, talvez passando ao lado de uma grande carreira. 

É essa mulher anónima, uma estranha, de quem não sei nada, e nunca saberei nada, uma mulher de rosto fechado, calejado, mas que num instante cruza comigo um olhar, revelando, por detrás de tantas camadas doridas, um anseio, uma vulnerabilidade, de quem diz "ainda estou viva", é isso para mim a flor da cerejeira.

As mulheres e os homens do autocarro. Apertados como sardinhas em lata e, no entanto, tão sós e distantes como os planetas de uma constelação. Pessoas anónimas, isoladas, no ambiente urbano, pessoas a partilhar um espaço, e vidas que se cruzam, condenadas a não se encontrar, é mais isso que me faz escrever. Não tanto as flores e os insectos. Esses reservo-os para a ficção científica).