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domingo, 22 de janeiro de 2012

Tetracktys

Começa a emergir, um projecto, na minha cabeça. Com um fim tão delineado quanto abstracto.

Tetraktys era um símbolo pitagórico, um número mágico, com uma forma geométrica que tem tanto de simples como de hipnótica, metafísica.

Sei pouco da magia dos números. Mas este ano tem sem dúvida o 7 tatuado.

O meu pai fez 70 anos. Eu farei 37. E nós faremos 7.

Sei pouco da magia dos números, mas algo me diz que tenho que usar o 7 como quem usa uma chave. Tenho que abrir portas. Portas dentro de portas, dentro de portas, até descobrir que me encontrava num campo extenso, vazio, livre. Um campo sem caminhos. E nas minhas mãos, ainda, o número 7, como que terminando em lâmina. Um 7 para cortar caminho, para me fazer ao caminho, libertar-me dos enleios de esteva, cravados na pele como cilício.

Fazer-me ao caminho. Encontrar Tetraktys. Triângulo mágico, inatingível no horizonte, composto por diferentes arranjos de quatros, perfazendo o número 10, neste ano do 7.

Encontrar Tetraktys, ainda que inatingível, a verdade. Ainda que labiríntico, o trilhar de caminhos impossíveis, o lutar contra monstros invisíveis. Voltar ao local que abandonámos, coberto de anéis de inverno. Voltar a Knossus.

E encontrar Tetraktys.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Black Swan & João Barreiros

Começar o ano com Black Swan. Bom guardá-lo para a transição 2011-2012, esse grande de Darren Aronofsky que mais do que ninguém sabe fazer personagens e levá-los ao limite, além de ser obsessivo com a estrutura da história e a sua expressão estética, o que, no seu conjunto, vem fazendo dele um dos meus cineastas preferidos, já desde Pi e Requiem for a dream.

A dualidade entre o branco e o negro, o branco por fora, bem conservado num quarto que vem perpetuando o lado virginal da infância, revelando uma patológica relação com a mãe que mantém a princesa refém no seu castelo, pois foi também pela princesa que ela abdicou de ser alguém na vida, para se dedicar a ser mãe. Mãe com os seus tentáculos frígidos que esculpem a mente da menina-prodígio e inibem o golpe de asa, o soltar-se de si mesma, o rasgar a capa, o rasgar o branco e revelar o negro que é o lado sedutor, o lado perverso, a mulher que se tem dentro.

E essa mulher tem que ser revelada. Porque a vida, e a profissão precisam dela. O Lago dos Cisnes e o encenador clamam por ela, porque a menina perfeccionista, por si só, não chega, não serve. A Arte precisa da mulher, mas a mãe precisa da menina.

O resultado é um duelo brutal entre a Mãe e a Arte, que Natalie Portman executa na perfeição, esse escalar de uma espiral obsessiva em que o lado racional e o animal/libido se digladiam até á morte. E só na vertigem da morte ela se reencontra com o seu lado selvagem.


Ao mesmo tempo, ler boa FC portuguesa, como o excelente “Se acordar antes de morrer” de João Barreiros, tem sido alimento nutritivo este início 2012, não sei se fertilizando o meu lado racional ou o lado selvagem, pois toca em temas e universos que tenho dentro em estado líquido. Nesta fase – recta final do PhD - em que o lado racional deveria sobrepor-se ao outro, a coisa anda difícil. Ego e ID também se guerreiam em espectadores do cisne negro.

Aronofsky sabe disso. Mas também Andrés Heinz, Mark Heyman e John J. McLaughlin, escritores e guionistas de Black Swan, a quem em 2011 um senhor ficou a dever um grande favor. Um senhor chamado Oscar.