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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Tarsky

Não sou um "dog lover", no sentido de quem gosta de todos os cães incondicionalmente e coloca os seus direitos ao nível, ou acima, dos direitos das pessoas.

Mas também não gosto lá muito de pessoas. Gosto de algumas pessoas, tal como gosto de alguns cães.

Mas todos os boxers que vejo - nem são assim muitos que andam por aí - lembram-me um certo cão.

Um cão que me faz relembrar como pode ser uma ligação entre um cão e um homem.

Tarsky era um cão que ressonava e tinha sonhos agitados. Um cão que suspirava, que fazia olhos de enfado. Um cão que vi amuar, num dia que o repreendi injustamente. Acredito que sejam assim todos os cães, ou talvez tenham, tal como nós, as suas idiossincrasias, dependendo não apenas da raça, mas do indivíduo cão, cada qual com a sua unicidade.

Tarsky era, portanto, tão único como eu sou único. Era um boxer peculiar, com cauda, sem as orelhas cortadas. E que bonitas era aquelas carnudas orelhas. É um crime cortar as orelhas a um boxer. Gostava tanto das orelhas do Tarsky que cheguei mesmo a trincá-las - eu, que sou um TOC misofóbico, mas não conseguia resistir àquelas aveludadas orelhas de cão. 

Não apenas a sensação do tacto, mas também do olfacto. Sobretudo do olfacto.

Resumindo, não sou dog lover, mas o que gostava mais no meu cão era o cheiro a cão.

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