Sirene
irrompes pelo trânsito, sulcas a estrada
aproximas-te frenética
transbordas-te
no som mudo e trémulo que nos embala
feres-nos os tímpanos.
Doce agressão
foge desta noite, impaciente e molhada
foge, atrás da chuva
abandona estes corpos
flácidos, inertes
estes que dançam ao ritmo
da ondulação do motor.
Doce trepidação
faz-nos vibrar, dá-nos vida
vida
nestes rostos ausentes
nestes olhos vincados
olhos que não olham, deslizam apenas
num espaço infinito
num tempo estagnado à velocidade laranja.
Velocidade BUS
trazes-nos o dia a dia, cravado
na máscara disforme,
desfiguras-nos, cortas-nos
os pensamentos aos solavancos.
Mas para quê pensar
nas entrelinhas deste autocarro?
apenas envelhecemos e pronto.
Sem proveito?
sim, neste espaço de ninguém
sem proveito.
Porém levanto-me, porém comunico:
vai sair?
(uma imagem vale mil palavras. vi hoje uma
representação deste poema numa pintura em acrílico, com a assinatura CM. Uma obra
que, lá está, me deixou sem palavras. Magnífica)
Tive o previlégio de ouvir várias vezes este poema durante a execução do esboço e mais tarde da sua representação, em pintura....e embora seja "suspeita". Só tenho a dizer que o resultado desta combinação não poderia ser melhor. Parabéns aos dois! =)
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