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domingo, 2 de janeiro de 2011

Mea meia

Não há coisa pior que só saber de uma das meias de um par. Muitas vezes andei eu furiosamente atrás da outra meia, procurando-a por todos os recantos da casa. Mas lá desistia quando me diziam “deixa lá isso, calça outro par de meias, ou uma meia de cada par… quem é que vai reparar nisso?”. E a minha resposta deveria ter sempre sido: “eu. Eu reparo nisso”. Mas nunca foi. Não têm sido assim os meus primeiros 35 anos de vida.

É por isso que, findo o ano de 2010, faço um balanço negativo, em termos pessoais, da minha prestação entre 1975 e 2010. Tendo alma de artista, tenho-a abafado constantemente em nome do meu bem-estar com os outros. Mas o que é o meu bem-estar com os outros? Não posso estar bem com os outros se não estou bem comigo.

Este foi mais um Natal estilhaçado, sem família. Com família em fragmentos, partes de família que não se dão com partes de família. E as diversas partes de mim tentam moldar-se às diferentes partes de família.

Durante os meus primeiros 35 anos de vida habituei-me a ter nojo da minha voz. A ser passivo, submisso. É esse o balanço negativo que faço. Ora bolas, com 35 anos já tenho, como referiu um dia um meu colega em Schiermonnikoog, “uma idade respeitável”. Vou dar-me, portanto, ao respeito. Tenho que ser eu o primeiro a fazê-lo. E dar-me ao respeito é não ter nojo nem medo da minha voz. Quem estiver comigo, quiser estar comigo, vai ter que ouvir a minha voz.

Ou então que arranje um cão.


(PS: Para todos os que aqui vierem dar, desejo um Feliz Ano de 2011)

3 comentários:

  1. A Família devia ser o primeiro dos Valores da Sociedade a preservar.

    Do meu ponto de vista pessoalíssimo deve-se procurar não fazer à nossa descendência aquilo que a nossa ascendência eventualmente nos tenha feito.

    Infelizmente os Juízes têm grande culpa na destruição das famílias ao fixar pensões de alimentos completamente desajustadas do Pís real onde patrões e sindicatos discutem ordenados de menos de €500.

    Os Juízes incentivam ainda os divórcios ao subtrair todos os direitos ao progenitores masculinos, reduzindo-os a meros pagadores.

    É por isso que a constituição da Família devia começar pela escolha do segundo progenitor privilegiando a estabilidade emocional por exemplo, aos atributos físicos.

    Mas sobretudo vejo como muito positiva a sua aparente "rebeldia" em relação a uns e outros, deve encontrar a sua vida libertado das pressões de ambos os lados.

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  2. Feliz 2011
    (há que dizê-lo de viva voz).

    Cá para nós, ninguém gosta da própria voz.

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  3. Obrigado pelos comentários elevados que vão deixando aqui. Quanto à "rebeldia", seria mais positiva se eu tivesse 15 anos e não 35. Mas não é rebeldia dirigida a ninguém em particular, para além de mim próprio e das vozes que fui acumulando em cima daquela que deveria ter sido a minha. Fui, muitas vezes, uma espécie de "Zelig" do filme do Woody Allen, um camaleão, mas não seremos todos um pouco? Os que estão à nossa volta são também os tijolos, matéria-prima, com que construímos a nossa personalidade. O segredo está na arte de rebocar...

    Bom ano de 2011!

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