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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Haverá canção mais perfeita?

"Just a perfect day
drink Sangria in the park
And then later
when it gets dark, we go home

Just a perfect day
feed animals in the zoo
Then later
a movie, too, and then home

Oh, it's such a perfect day
I'm glad I spend it with you
Oh, such a perfect day
You just keep me hanging on
You just keep me hanging on

Just a perfect day
problems all left alone
Weekenders on our own
it's such fun

Just a perfect day
you made me forget myself
I thought I was
someone else, someone good

Oh, it's such a perfect day
I'm glad I spent it with you
Oh, such a perfect day
You just keep me hanging on
You just keep me hanging on

You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow"

Lou Reed (transformer, 1972)

Haverá canção mais perfeita que esta? Lendo apenas a letra parece uma canção alegre, sobre um fim de semana fútil. Mas depois vem o contraste com a música, tornando o conteúdo pesado, melancólico, mesmo perturbante. Há uma estranha e funda tristeza nesta canção.
Uma letra que parece referir-se ao prazer de uma companhia assenta numa melodia carregada de ausência, nostalgia, desamparo. Até mesmo quando o intérprete canta "You just keep me hanging on".
Não deverá ser, aliás, por acaso, a última estrofe quatro vezes repetida "You're going to reap just what you sow".

As interpretações desta canção podem ser várias, e há quem encontre o seu sentido na fase complicada da relação de Lou Reed com a heroína.
Mas é mesmo por isso , pela força da sua ambiguidade, pela confusão de sentimentos que gera, pelo vazio que nos deixa quando acaba, que esta é para mim uma das canções mais perfeitas.

Como que por magia, o fútil torna-se sublime. E dou por mim a pensar em ti .
E a voz do Lou Reed faz-se minha: "You just keep me hanging on".

"You just keep me hanging on".

3 comentários:

  1. :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :)

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  2. Mané - esta música é marcante para mim, neste momento da minha vida não a consigo ouvir de todo. É engraçado porque tenho momentos que não consigo ouvir determinada música, sempre uma música que é uma pessoa, ou seja, quando a oiço sinto a outra pessoa aqui, ao meu lado. Por isso a música para mim é uma pessoa, como um primo meu com palavras e cores, onde uma palavra é uma côr. Para mim, algumas músicas são pessoas.

    Quantas vezes já voltei atrás o trainspoting para ouvir e ouvir e ouvir esta música. Também já fiz O AMOR com uma rapariga ao som desta música (não a escolhi, nem teve a duração da música, foi bem mais tempo que uma música :), mas lembro-me de no final a música estar a tocar e ter ficado a nossa música. Depois disso bateu-me, fez escândalos, e traiu-me... Lá está, a ambiguidade traduzida para a realidade.A música é ela, porque ela é como a música. Ou foi...
    Apenas é perfeito porque nos vai mantendo "You just keep me hanging on". Será que nos mantém para sempre? Será que vai havendo sempre alguma cosia que nos mantém. E quando não houver nada para nos manter...

    Um abraço que tem mais de parecido contigo do que tem com um pai.

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  3. Mané, sob pena de me repetir, aconselho-te vivamente um filme que te assenta como uma luva, o "Let the right one in", ou "Deixa-me entrar", em português. E não, não é um filme pornográfico.
    Sobre o "Será que vai havendo sempre alguma cosia que nos mantém. E quando não houver nada para nos manter..." lembro-me de uma grande obra que se não viste também te aconselho, o "The Wrestler". Toca bem fundo esse sentimento que descreves. É um grande filme.
    Há filmes, tal como canções, que provocam esse efeito de catarse. E falo-te em filmes porque é uma linguagem que partilhamos.

    Mas esses elementos da vida que colectamos e impregnamos na nossa memória também se transformam ao longo do tempo. Além de que nos fortalecem. Amadurecem-nos, tornam-nos mais livres a pensar e a ser.

    Curiosamente "Mané" para mim não tinha côr, mas tornou-se azul.

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