a-chave-dicotómica
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Whatever works
Será que dois "super-egos" judaico-niilistas, narcisos e partidários da auto-comiseração, cabem no mesmo filme? Está bem que Woody Allen em alguns dos seus últimos filmes divergiu do estilo obsessivamente centrado em si próprio, nomeadamente em Match Point. Neste filme constrói mesmo um protagonista que é a antítese de si próprio, qual Cálicles, personagem que Platão inventa em “Górgias”, para quase destruir a sua própria doutrina nesse diálogo socrático. Em Match Point é a mera sorte que se opõe à justiça universal, protegendo o protagonista contra todas as vozes de um coro grego que gritam nas nossas consciências, mas vergam-se no fim, face a um filme impecavelmente amoral. Sem artifícios, sem penas, sem efeitos secundários. Apenas o som trágico de algumas árias de ópera adornando o passing shot sobre o espectador impotente. E deu-me a sensação que Allen estava ali connosco, partilhando esta impotência da condição humana, mais filosófica, menos pseudo-intelectual. Mas será que este animal mitológico Allen-David terá asas para voar? Como dizia Sérgio Godinho “pode alguém ser quem não é?”
A verdade é que Woody Allen continuará a ser Woody Allen e de Larry David nem se fala. Será que menos com menos dá mais? Não sei, estou céptico quanto ao resultado, mas enfim, “whatever works”, como já nos vão avisando no próprio título do filme.
A verdade é que Woody Allen continuará a ser Woody Allen e de Larry David nem se fala. Será que menos com menos dá mais? Não sei, estou céptico quanto ao resultado, mas enfim, “whatever works”, como já nos vão avisando no próprio título do filme.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Para quem nunca percorreu Knight Lore e os seus labirintos
"My journey's end is near; as the last few ebbs of daylight dance fleetingly in the cooling twilight, and then suddenly dart off to chase the red sinking sun. Behind me I feel night's dark icy fingers slither up long looming shadows, hiding behind large mounds and boulders, watching my every move... silently waiting..."
Perigos dos eufemismos
Fui hoje ao Albert Heijn comprar, entre outras coisas, nutritivos souvenirs para o pessoal que vou reencontrar no meu regresso a Gondor. E perante tantas stroopwaffels que a rapariga da caixa estava a registar à minha conta tive a necessidade de lhe revelar "sabe, não é tudo para mim... são prendinhas que levo comigo no regresso à minha terra Natal", "Ah, que giro, e de onde é?", "de Portugal", "deve lá estar muito mais calor que aqui, não?", "não faço a mínima ideia". Perguntam-me sempre como está o tempo em Portugal e nunca sei responder. Mas não foi isso que me veio à cabeça, foram os iogurtes Activia na prateleira dos frios. Devem ser os únicos iogurtes que os holandeses importam. Se desenharmos um diagrama de Venn em que num conjunto estão os iogurtes do Jumbo e no outro os do Albert Heijn, na sua intercepção estarão apenas os iogurtes Activia. Parecem ser um fenómeno. Mas sempre que os vejo nas prateleiras do super-mercado não consigo evitar de imaginar o anúncio aos ditos iogurtes em Portugal (que talvez seja a adaptação da publicidade noutros sítios). É uma publicidade carregada de eufemismos, mas nem sempre um eufemismo consegue esconder o verdadeiro peso das palavras que engenhosamente dissimula. E o pior é que é um anúncio a iogurtes, ora, misturar deliciosos produtos lacticínios com momentos privados de que só Deus sabe o que lá se passa, nunca me pareceu boa ideia. E mais: não imagino nenhuma arte capaz de fazer sublimar a mensagem (não direi repugnante, mas pelo menos não susceptível de abrir o apetite) de uma dejecção, de forma a torná-la "sexy" enquanto associada ao acto de comer um iogurte. É que a coisa fica muito sobreposta, o WC e o iogurte.
E depois ouvimos todos aqueles ridículos eufemismos, como “sinto-me, sei lá, inchada” e “com Activia fiquei muito mais leve”, enquanto vemos a imagem de uma seta a descer barriga abaixo, como que anunciando graficamente todo o produto do intestino grosso a fluir alegremente, rumo à liberdade. Sei que muitas mulheres têm problemas de prisão de ventre. Alguns homens também. Mas fossem todos como eu e o iogurte não teria grande taxa de sucesso de vendas. Pelos vistos tem, ainda bem para ele, e para todos os Jejunos que dele beneficiam. Mas não consigo evitar de ver sempre o anúncio puro e duro, para além dos eufemismos: “Epá, tenho andado mesmo mal da barriga”, “que tens”, “há semanas que não faço nada… e ando sempre com a sensação de ter na barriga um cagalhão do tamanho do mundo”, “Epá, toma Activia, vais ver que isso passa”, “Tinhas razão, depois de comer Activia parece que já acertei o relógio”, “Conseguiste?”, “Se consegui? Caguei que nem uma desalmada! Até me vieram as lágrimas aos olhos”, “Ena, ena, isso é que deve ter sido um verdadeiro concerto de Wagner no WC”, “Qual concerto do Wagner, aquilo parecia era uma guerra nuclear”, “Mas ouve lá, quantos iogurtes comeste tu?”, “Bem, sei lá, ontem comi uns cinco”, “Cinco??? Qual relógio qual quê, amiga, tu estás é de caganeira”. Enfim, eu aqui como iogurtes da marca Albert Heijn. São cremosos. Com alguns E’s, mas baratinhos.
E depois ouvimos todos aqueles ridículos eufemismos, como “sinto-me, sei lá, inchada” e “com Activia fiquei muito mais leve”, enquanto vemos a imagem de uma seta a descer barriga abaixo, como que anunciando graficamente todo o produto do intestino grosso a fluir alegremente, rumo à liberdade. Sei que muitas mulheres têm problemas de prisão de ventre. Alguns homens também. Mas fossem todos como eu e o iogurte não teria grande taxa de sucesso de vendas. Pelos vistos tem, ainda bem para ele, e para todos os Jejunos que dele beneficiam. Mas não consigo evitar de ver sempre o anúncio puro e duro, para além dos eufemismos: “Epá, tenho andado mesmo mal da barriga”, “que tens”, “há semanas que não faço nada… e ando sempre com a sensação de ter na barriga um cagalhão do tamanho do mundo”, “Epá, toma Activia, vais ver que isso passa”, “Tinhas razão, depois de comer Activia parece que já acertei o relógio”, “Conseguiste?”, “Se consegui? Caguei que nem uma desalmada! Até me vieram as lágrimas aos olhos”, “Ena, ena, isso é que deve ter sido um verdadeiro concerto de Wagner no WC”, “Qual concerto do Wagner, aquilo parecia era uma guerra nuclear”, “Mas ouve lá, quantos iogurtes comeste tu?”, “Bem, sei lá, ontem comi uns cinco”, “Cinco??? Qual relógio qual quê, amiga, tu estás é de caganeira”. Enfim, eu aqui como iogurtes da marca Albert Heijn. São cremosos. Com alguns E’s, mas baratinhos.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Só há esta... é pra mim!
Mentira, cada vez vou menos ao cinema. Se há um filme a estrear sobre o qual tenho algumas expectativas já dou por mim a evitar ir vê-lo às salas de circuito comercial. Para quê, se o posso ver na minha tv panorâmica com um som dolby-não-sei-quê bastante razoavelzinho e sem ruídos adicionais de:
1) boçais mastigações pipocas;
2) toques de telemóveis (e pior, a serem atendidos durante a sessão);
3) grupos de pessoas a conversar umas com as outras como se estivessem no café.
Ver o filme em casa, no sofá, pode não ter o mesmo nível de espectacularidade que vê-lo no cinema, mas ao menos não despoleta os níveis de "quem pagou um bilhete para ficar o tempo inteiro irritado" com o comportamento desrespeitoso dos vizinhos do lado, a quem tentamos dissuadir com um violentíssimo golpe de estalido-de-língua, normalmente com uma considerável taxa de insucesso. Já lá vão os tempos em que o estalido-de-língua sortia algum efeito, e que havia mais civismo e (já agora) bom gosto nas salas de cinema. Mas este é o comentário típico de alguém na casa dos trintas. Somos por um lado os criançolas que se recusam a deitar fora (ou reciclar) os seus velhos bonecos da saga “Star wars” (a primeiríssima saga, com muito orgulho), bem como dos “Masters of the universe”, e por outro lado prematuros velhos rabugentos e nostálgicos acerca da magia da nossa geração, quem cresceu nos 80’s, nos 90’s, e continua a ligado ao imaginário de um “Jet set willy”, de um “Sabrewulf”” ou de um “Moon alert”.
A avaliar pela forma nostálgica como Nuno Markl também se refere ao mítico ZX Spectrum, entre outros ícones daquela altura, atrevo-me a incluí-lo também neste grupo de seres superiores, detentores da marca VG (ver primeiro post, se é que alguém lê isto). Ele vem também desta colheita magnífica, da geração da pantera cor-de-rosa (escrevi cor com o acento circunflexo mas o corrector de texto apagou-o, enfim, vou reprimir o apelo reaccionário). E a prova está nesta sua recente colecção de cromos. Desde o castelo de Grayskull lá ao fundo até à - já referida neste blog - latinha de leite Toddy, cujo sabor continua ainda hoje estampado, qual calquito, na nossa memória colectiva. Prometo que irei participar nesta iniciativa.
Talvez seja uma espécie de imatura velhice toda esta nostalgia. Uma coisa é certa, sentimos já o aperto de sermos uma espécie em vias de extinção. Outra geração de trintões tomará o nosso lugar, com outras referências. Julgaremos sempre que a nossa teve mais espaço para a fantasia, estivemos nas origens do que evoluiu hoje para um Nintendo Wii. Somos os dinossauros que sobreviveram às novas tecnologias. Admiramo-nos de quão perto já estamos da realidade virtual, mas acharemos sempre que nada chega aos calcanhares de um “Knight Lore” da grande “Ultimate”. E viva o Tron, já agora. Que este revivalismo vai também perpassar nas salas de cinema. Eu cá esperarei pelo dvd para o ver, calmamente, no conforto do meu sofá, longe dos grunhidos e vociferações adolescentes das salas Lusomundo.
1) boçais mastigações pipocas;
2) toques de telemóveis (e pior, a serem atendidos durante a sessão);
3) grupos de pessoas a conversar umas com as outras como se estivessem no café.
Ver o filme em casa, no sofá, pode não ter o mesmo nível de espectacularidade que vê-lo no cinema, mas ao menos não despoleta os níveis de "quem pagou um bilhete para ficar o tempo inteiro irritado" com o comportamento desrespeitoso dos vizinhos do lado, a quem tentamos dissuadir com um violentíssimo golpe de estalido-de-língua, normalmente com uma considerável taxa de insucesso. Já lá vão os tempos em que o estalido-de-língua sortia algum efeito, e que havia mais civismo e (já agora) bom gosto nas salas de cinema. Mas este é o comentário típico de alguém na casa dos trintas. Somos por um lado os criançolas que se recusam a deitar fora (ou reciclar) os seus velhos bonecos da saga “Star wars” (a primeiríssima saga, com muito orgulho), bem como dos “Masters of the universe”, e por outro lado prematuros velhos rabugentos e nostálgicos acerca da magia da nossa geração, quem cresceu nos 80’s, nos 90’s, e continua a ligado ao imaginário de um “Jet set willy”, de um “Sabrewulf”” ou de um “Moon alert”.
A avaliar pela forma nostálgica como Nuno Markl também se refere ao mítico ZX Spectrum, entre outros ícones daquela altura, atrevo-me a incluí-lo também neste grupo de seres superiores, detentores da marca VG (ver primeiro post, se é que alguém lê isto). Ele vem também desta colheita magnífica, da geração da pantera cor-de-rosa (escrevi cor com o acento circunflexo mas o corrector de texto apagou-o, enfim, vou reprimir o apelo reaccionário). E a prova está nesta sua recente colecção de cromos. Desde o castelo de Grayskull lá ao fundo até à - já referida neste blog - latinha de leite Toddy, cujo sabor continua ainda hoje estampado, qual calquito, na nossa memória colectiva. Prometo que irei participar nesta iniciativa.
Talvez seja uma espécie de imatura velhice toda esta nostalgia. Uma coisa é certa, sentimos já o aperto de sermos uma espécie em vias de extinção. Outra geração de trintões tomará o nosso lugar, com outras referências. Julgaremos sempre que a nossa teve mais espaço para a fantasia, estivemos nas origens do que evoluiu hoje para um Nintendo Wii. Somos os dinossauros que sobreviveram às novas tecnologias. Admiramo-nos de quão perto já estamos da realidade virtual, mas acharemos sempre que nada chega aos calcanhares de um “Knight Lore” da grande “Ultimate”. E viva o Tron, já agora. Que este revivalismo vai também perpassar nas salas de cinema. Eu cá esperarei pelo dvd para o ver, calmamente, no conforto do meu sofá, longe dos grunhidos e vociferações adolescentes das salas Lusomundo.
P.S.: Markl caminha na passadeira amarela, qual geração dos trintas a caminho do feiticeiro de Oz. Bem precisamos.
Por falar em "reciclagem"...
...a reposição de um texto escrito 'a long time ago' num blogue 'far, far away'...
"Um wc público é um wc público, seja em que parte do mundo for. Porém, estou convencido que, em Portugal, os wc públicos são especialmente ilustrativos dos temas urbanos que episodicamente ali desaguam. Como tal, constituem um privilegiado espaço para profícuos estudos de sociologia. De facto, muita tinta corre nos azulejos dos wc públicos, que deveriam apenas reflectir as normais necessidades humanas e não outras porcarias que fazemos. A verdade é que a função das casas de banho que todos partilhamos há muito deixaram de ter apenas a sua função óbvia, passando a ser veículos de comunicação e propaganda, onde se expressam ideias, algo primárias, sobre clubismo e segregação, racismo e xenofobia (muita suástica se vê no cubículo de um wc), mas sobretudo sobre sexualidade, sob a forma de boçais mensagens de engate. Não direi de engate gay, pois acredito que gays não procurem parceiros escrevendo os contactos telefónicos nas paredes e muito menos deixando mensagens como: “fasso XXXXXX” ou “XXXX-XX o pao todo”. Atribuo o conteúdo (e também a forma) de tais mensagens a diminuídos mentais que se dão ao trabalho de sacar de uma caneta e perder tempo a escrever uma frase e deixar o respectivo número de telefone, certamente de alguém que querem chatear ou, pior ainda, deles próprios. Enfim, à parte esta polémica, é sempre bom testemunhar o bom português que se escreve nas “nossas” casas de banho. Não necessariamente textos com um cariz clubista/racista/sexual, mas sempre textos muito bem escritos. Há, por exemplo, outro género de artistas, que preferem dedicar-se a recados de sabedoria popular ou a pequenos ensaios de alta qualidade literária. Lembro-me sempre do clássico “Lá fora és um gajo valente, aqui cagaste todo”, um prodígio da gramática portuguesa. O meu problema com os wc públicos é que não consigo passar sem eles, dependo inevitavelmente deles, apesar do espectáculo aterrador que recorrentemente oferecem. Se dou um passeio num centro comercial, preciso de ir pelo menos uma vez à casa de banho. Se ficar por lá a jantar, pelo menos duas. Se depois for ainda ao cinema, certamente mais do que três. Sou, portanto, um WCinéfilo. Espectador assíduo, não só dos filmes que passam em cartaz, mas também do espectáculo que perpassa no palco de todos nós, que retrata quem somos e, certamente, de onde todos viemos."
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Eles cagam tudo
Daí eu não entender por que diabo escolheram o Gervásio para dar nos dar o exemplo e alertar os seres humanos para a reciclagem. Aposto que, logo a seguir a nós, os chimpanzés posicionar-se-ão no topo do ranking dos animais que menos reciclam. Como diria o meu avô, irritado em plena condução, em jeito de insulto dirigido a outro condutor no meio do trânsito: "Aquele mamífero!.."
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